Quando embarquei no avião para a América do Sul, estava muito nervoso. Felizmente percebi que meus medos eram infundados e, sendo um mochileiro com paralisia cerebral, fiquei surpreso como foi fácil pra mim desbravar a América do Sul. Como qualquer coisa na vida, há alguns obstáculos e desafios a serem superados ao longo do caminho, mas nada que me impediu de buscar meu sonho e ver o mundo. Para te ajudar a se preparar para a sua própria grande aventura, compartilho aqui a minha experiência e as principais dicas para viajar quando se tem uma deficiência.
Atitudes em relação a um viajante com dificiência
Eu ando de uma maneira trêmula, então sim, eu chamo atenção pelas ruas de Cusco! Mas eu também chamo atenção pelas ruas da Nova Zelândia (meu país). Eu estou muito acostumado com olhares curiosos e não me importo, eu sou um ser humano curioso também… E é por isso que eu viajo!
Na minha experiência, 99% das atitudes das pessoas para com um viajante com deficiência que viaja sozinho são positivas. Passei por todos os tipos de bondade durante minha viagem: Argentinos se curvando para amarrar meus cadarços, bolivianos oferecendo para carregar minha bolsa, peruanos me dando uma mão para subir os degraus irregulares de Machu Picchu, brasileiros me oferecendo seu assento em transporte público, donos de hostel garantindo o beliche mais disputado e, finalmente, as centenas de mochileiros super amigáveis que conheci ao longo do caminho e que fizeram com que minhas viagens fossem inesquecíveis.
De verdade, as atitudes das pessoas em relação a mim como um viajante com deficiência continuam a me impressionar. Então, se você tem uma deficiência, por favor, não deixe o medo das atitudes das pessoas te desanimar. Mochileiros são pessoas de espírito aberto e aventureiro que irão te dar todo o apoio em sua jornada.
Desafios de viajar possuindo uma deficiência
Em seis meses de mochilão, a maioria dos desafios que enfrentei foram relacionados a me locomover a pé.
A parte mais difícil de fazer um mochilão para mim foi definitivamente carregar minha mochila de 60 litros para um novo destino a cada poucos dias. Quando você carrega a sua vida inteira numa bagagem, a tendência é que fique pesada e gere uma pressão nas pernas. Para isso eu tinha uma bengala que funcionava como contrapeso. Eu costumava usar táxis com mais frequência do que meus novos amigos de viagem para chegar ao meu próximo hostel. Foi muito mais relaxante do que ficar carregando meu equipamento!
Eu também passava dificuldades quando o terreno era íngreme ou em superfícies irregulares, como Machu Picchu, ao redor do Salar de Uyuni ou da Basílica del Voto Nacional. Subir o campanário da Basílica del Voto Nacional, em Quito, também foi bastante desafiador. Os degraus são mais verticais do que um arranha-céu, e a possibilidade de uma queda deixou meu coração acelerado! Incentivo, paciência e ajuda de meus companheiros de viagem fizeram com que este gringo aqui não escorregasse e eu orgulhosamente completei a subida!
Andar tarde da noite nas grandes cidades pode ser estressante. Minha dica seria garantir que você sempre esteja na companhia de amigos. Além disso, se você estiver indo curtir a noite, eu recomendo as boates localizadas em bairros mais populares, em ruas movimentadas e bem iluminadas.
Apoio e paciência foram tudo o que eu precisava para superar esses desafios físicos. Muchas gracias para os mochileiros amáveis, moradores e anfitriões de tours que eu me encontrei no caminho 😊
Acesso a atrações turísticas
Um lado positivo de viajar tendo uma deficiência é a capacidade de pular filas ou conseguir descontos em certas atrações e locais turísticos. Durante minha aventura na América do Sul eu visitei algumas das principais atrações que ofereciam acessibilidade incrível para viajantes com deficiência.
1. Cataratas do Iguaçu
Cheguei cedo às Cataratas do Iguaçu e estava aguardando na bilheteria por menos de um minuto quando um funcionário me notou e me levou a um estande especial. Lá eu mostrei meu cartão de identificação da sociedade de paralisia cerebral (dica: vale a pena obter uma carteira de identidade da sua organização antes de viajar) para a funcionária no guichê, ela verificou a legitimidade, “Boleto grátis”… Eu não mal pude acreditar, eu tinha ganhado a entrada! “Gracias amiga”, respondi surpreso! Mas as surpresas não pararam por aí, me ofereceram uma carona para passear pelo parque, o que foi a melhor coisa, já que ouvi dizer que o parque é enorme! Carrinhos foram oferecidos para a locomoção de todas as pessoas com problemas de mobilidade, o que foi uma enorme ajuda. Eu também fiquei super impressionado com as passagens largas ao redor das cachoeiras de Iguaçu, com ótimo acesso para pessoas com cadeira de rodas. Este local foi um exemplo brilhante de como atender a pessoas com deficiência.
2. Cristo Redentor
O Cristo Redentor no Rio é outro marco imperdível e pensado para acessibilidade. Existem elevadores para que você possa subir e ver a impressionante estátua.
3. Pão de Açúcar
O Pão de Açúcar, novamente no Rio, tem uma conveniente “via expressa” que permite que os viajantes com deficiência não peguem filas e recebam um bilhete com desconto.
4. Gôndolas de La Paz
As gôndolas de La Paz (Bolívia) também eram facilmente acessíveis com elevadores para você subir até o topo da capital mais alta do mundo!
Dicas de transporte
Viagem de curta distância
Táxis
Ir de A a B na América do Sul não é tão difícil quanto você imagina. Para se locomover dentro das cidades – táxis são o melhor amigo de um viajante com deficiência. Quando ficar difícil carregar sua mochila pesada, os táxis são o seu salvador. Jogue sua mochila na mala e relaxe! Nunca tive problemas para confiar nos táxis, tenha bom senso, use as empresas registradas, negocie o preço antes da partida e pronto. Dica: táxis são baratos no Peru e na Bolívia.
Ubers
Se você não está convencido de que táxis são uma boa opção e prefere saber quem é seu motorista, faça download do Uber antes de partir para sua aventura. Em alguns lugares o Uber pode ser metade do preço de um táxi! Dica: Ubers são baratos no Brasil, Chile e Argentina.
Viagem de longa distância
A América do Sul é um pouco diferente da Europa quando se trata de viagens de longa distância, pois infelizmente não possui redes de trens de alta velocidade à sua disposição. Mas, não tenha medo…
Ônibus
Os ônibus são sua melhor opção para viagens de longa distância na América do Sul.
Antes da viagem eu estava hesitante para pegar um ônibus na América do Sul, mas honestamente, não tem motivo. Na América do Sul todos os ônibus para longas distâncias são de dois andares, e para melhor acessibilidade compre o seu assento no piso inferior. Além disso, não precisa se preocupar em ir ao ‘baño’ antes da viagem, pois todos os ônibus têm banheiros pequenos.
Dica: o Busbud é o melhor site para ônibus nacionais e internacionais.
Melhores Empresas de Ônibus na América do Sul:
- TTL Turismo – Uruguai (melhor ônibus noturno que já viajei)
- Catarinense – Paraguai / Brasil
- Colectivos – na Colômbia (estes são um híbrido entre ônibus e van). Eles estão disponíveis em todas as rodoviárias, então tente pegar um Colectivo, pois eles são mais seguros e te levam ao seu destino mais rapidamente.
Vôos domésticos
Fique de olho em voos domésticos baratos em lugares como o Brasil e a Colômbia, se comprados com antecedência eles podem custar quase o mesmo que a viagem de ônibus.
Melhores hostels acessíveis para viajantes com deficiência
O app do Hostelworld é uma mão na roda para reservar uma cama de maneira rápida e fácil!
Aqui está a minha seleção de hostels com boa acessibilidade para viajantes com deficiência
1. Hostel Plaza de Armas – Santiago, Chile
- Vista deslumbrante sobre a praça principal.
- O hostel fica no sexto andar, mas há um elevador que te dá acesso fácil
- Rampas para banheiros oferecem ótimo acesso para usuários de cadeira de rodas
Reserve a sua estadia no Hostel Plaza de Armas
2. Black Sheep Hostel – Medellín, Colômbia
- Meu hostel favorito na América do Sul
- Excelentes instalações para deficientes e acesso pelo primeiro andar
Reserve a sua estadia no Black Sheep Hostel
3. El Nomada Hostel – Assunção, Paraguai
- Nenhuma escada! Aberto e realmente acessível!
Reserve a sua estadia no El Nomada Hostel
4. Rock-a-Town Hostel – Guatape
- Apenas um andar e não é muito grande para se locomover
Reserve sua estadia no Hostel Rock-a-Town
5. Habemus Hostel – Montevidéu, Uruguai
- Neste hostel me ofereceram um quarto especial no primeiro piso. Um monte de outras recepcionistas do hostel gentilmente me ofereceram quartos acessíveis, este foi um grande exemplo.
Reserve a sua estadia no Habemus Hostel
Viajar pela América do Sul foi uma experiência incomparável! Não vou me lembrar apenas dos locais e paisagens incríveis, mas principalmente das pessoas que tornaram essa viagem inesquecível para mim! Gracias América do Sul!!
📚 Sobre o autor 📚
George é um escritor de Pahiatua, Nova Zelândia. Ele tem paralisia cerebral, mas ele não deixa que isso nunca determine quem ele é. Como um kiwi típico, ele tem um amor por cervezas e rugby! Ele ama mochilar por caminhos fora da rota convencional! Acompanhe o blog dele The Walk of Life (em inglês) ou siga o cara pelo Instagram.
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